”Meus amados irmãos, tenham isto em mente: Sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar-se, pois a ira do homem não produz a justiça de Deus. Portanto, livrem-se de toda impureza moral e da maldade que prevalece e aceitem humildemente a palavra implantada em vocês, a qual é poderosa para salvá-los.”
Tiago 1:19-27 (NVI)
No versículo 18 do primeiro capítulo da carta de Tiago, vemos que Deus nos gerou por meio de Sua palavra para cumprirmos o Seu propósito e levarmos o evangelho adiante. Mas nosso comportamento precisa evidenciar que ela está em ação e a forma que reagimos em momentos de ira vai evidenciar isso. O que e como respondemos pode testemunhar contra nós ou a nosso favor.
“O sábio de coração aceitará mandamentos, mas os lábios do insensato o levam à ruína.” Provérbios 10:8 (NVI)
O que fazer e o que não fazer
Quando Tiago fala que sejam todos prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para se irar, ele está relembrando aos seus leitores alguns ensinamentos da sabedoria judaica como, por exemplo, Provérbios 17:27 e 28 que diz:
“Quem tem conhecimento é comedido no falar, e quem tem entendimento é de espírito sereno. Até o insensato passará por sábio se ficar calado; se fechar a boca, parecerá que tem discernimento.”
Precisamos ouvir com paciência, considerar com atenção, refletir sobre o que ouvimos antes de fazer julgamentos, pois é muito fácil tirarmos conclusões e agirmos de maneira precipitada. De acordo com Tiago, o nosso comportamento deve ser o oposto a esse. Por mais que algumas indignações sejam “santas” e justificáveis, precisamos ser cautelosos, mesmo nessas situações, pois se agimos motivados pela ira corremos grande risco de proceder de uma maneira que não agrada a Deus. E esse é o ponto de Tiago nessa passagem. A ira humana, por mais correta que esteja, não é capaz de produzir um comportamento de acordo com o evangelho, muito menos promover a ação de Deus em nosso favor, principalmente se não tivermos tomado tempo para ouvir, e já começarmos fazer julgamentos, agindo conforme a nossa própria justiça.
Se “despir” da maldade e aceitar o Evangelho
Justamente porque a nossa ira não é capaz de produzir um comportamento que agrada a Deus, Tiago nos ensina a nos livrarmos do pecado (no sentido de removê-lo das nossas vidas, conforme a NVT). As expressões que o autor usa para se referir ao pecado são impureza moral, para mostrar o quão repugnante o pecado é, e maldade que permanece (acúmulo da maldade – na NAA e ARA), para percebermos que essa é uma luta constante, que vivemos sempre em confronto com o mal que deseja nos afastar de Deus.
Enquanto nos desfazemos desse tipo de comportamento contrário à vontade de Deus, precisamos aceitar com humildade a palavra implantada em nós, isto é, permitir que o evangelho transforme todas as áreas das nossas vidas. Essa palavra, profetizada por Jeremias (Jr. 31:31-33), é o que nos orienta em nossos caminhos, é a semente plantada em uma terra boa que produz bons frutos (Mc. 4:3-20). Isso nos mostra que não é o nosso senso de justiça produzido pelas nossas indignações que pode nos salvar, mas essa palavra, na qual formos gerados para vivermos o plano de Deus (Tg. 1:18).
Quando agimos de acordo com a sabedoria terrena (que na verdade é tolice), “não levamos desaforo para casa”, respondemos com a mesma velocidade que a fala chegou para nós, não damos chance nem para a outra pessoa pensar, com o intuito de “vencer a discussão”, conforme Provérbios 18:2: “o tolo não tem prazer no entendimento, mas sim em expor os seus pensamentos.” Entretanto, quando agimos de acordo com a sabedoria divina, tomamos cuidado com o que falamos, não nos precipitamos, ouvimos com paciência, levamos tempo para pensar e, por vezes, percebemos que até nem vale a pena fazer algum comentário, pois “o tolo dá vazão à sua ira, mas o sábio domina‑se” Pv. 29:11.
Referências
DAVIDS, Peter H. Tiago. In: CARSON, D. A. et. al. (Org.). Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Vida Nova, 2009. p. 2030-2037
KEENER, Craig S. Tiago. In:______. Comentário Histórico-Cultural da Bíblia: Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2017. p. 790-795
MOO, Douglas J. O Comentário Exegético de Tiago. São Pulo: Shedd Publicações, 2020. p. 17-121